ELEIÇÕES 2014
Não vou pecar por omissão. Não quero me arrepender por
ter-me calado. Reservo um pouco do meu tempo atribulado para essa tarefa. E, se
o risco que anuncio se concretizar, vou rezar muito para estar errada porque o
que está em jogo é o país e a nossa estabilidade econômica, política e social.
É preciso abrir os olhos e compreender que parte importante
das críticas que alimentamos raivosamente contra o governo federal é fruto da
ação da mídia e dos grandes empresários que tiveram suas postulações
contrariadas, especialmente os empresários internacionais que temem a
concorrência do gigante Brasil, em diversos setores da economia. Foi gerado um
sentimento de falta de ética e de moral (algo que reside no terreno abstrato
dos pontos de vista, mas forte o suficiente para parecer objeção concreta e
gerar uma sensação de infidelidade nos compromissos). As pessoas se sentem
traídas pelo discurso do PT mais do que pelas ações do governo federal e não
enxergam diferença entre os dois.
No entanto, é preciso perquirir o que há de real nesse
processo. O que importa mais? Será que não estamos querendo jogar fora a água
do banho com a criança junto? Corremos o risco de perder o acessório e o
principal, intencionalmente ou por falta de paciência para separar o joio do
trigo.
Senão vejamos:
Fala-se em inflação, mas ela nunca esteve acima da média
estabelecida, ao contrário, a média de inflação no governo Dilma é a menor dos
três governos do PT;
O governo Lula recebeu um caixa negativo junto ao FMI e
baixo lastro em reservas internacionais e hoje, no auge da crise internacional,
o governo Dilma dispõe de 379 bilhões de dólares;
O governo anterior a Lula privatizou quase tudo no país e
ainda realizou dois grandes empréstimos ao FMI (em 1998 e 2001, sendo que a
última parcela - de 30 bilhões - foi recebida em setembro de 2002 para garantir
a campanha eleitoral tucana). O país estava de joelhos, enquanto hoje o Brasil
não deve mais ao FMI porque todas as obrigações com o Fundo foram cumpridas
desde Lula;
Falou-se mal do país e da copa do mundo por um ano, em todas
as manchetes da Veja e de outras revistas e jornais da grande mídia nacional e
internacional, para afinal realizarmos um evento ótimo e depois os jornais
estrangeiros pedirem desculpas ao país;
Fala-se da crise, mas o Brasil nunca desempregou, o PIB
brasileiro nunca deu negativo, o governo jamais reduziu (ao contrário)
benefícios sociais ou educacionais; o país está em obras (construindo portos,
estradas, ferrovias, aeroportos, hidrelétricas, equipando as pequenas
prefeituras com máquinas e outros insumos etc);
O programa Luz para Todos tirou o Brasil do escuro; a
Universidade não contingenciou recursos expressivos. As bolsas nacionais e
internacionais para mestrado e doutorado e a bolsa para o Programa Ciências sem
Fronteiras, que beneficiam milhares de estudantes universitários, se
multiplicaram.
Falou-se do Mais Médicos e o programa é um sucesso. Em São
Sebastião do Umbuzeiro, no interior da Paraíba, por exemplo, há dois médicos
que moram no local e visitam as famílias nos finais de semana. Não fazem como
os outros que davam um dia de expediente por semana, quando iam trabalhar;
Falou-se do ENEM e é outro sucesso, mesmo manejando a maior
estrutura do mundo em termos de quantidade de inscritos e de cobertura
geográfica;
O PRONATEC e o PROJOVEM são exemplos de inclusão dos jovens.
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e o
Projovem Trabalhador preparam os jovens para o mercado de trabalho, com
resultados importantes na indústria;
O SAMU e as UPAs ajudam a enfrentar o problema da saúde no
Brasil. O governo federal faz a sua parte, mas depende das parcerias com
Estados e municípios para o sistema funcionar bem;
A democracia está sólida e as MINORIAS são respeitadas. O
Estado brasileiro é laico;
Fala-se tanto em corrupção (e é verdade – o Brasil possui um
enorme déficit comportamental no trato com a coisa pública), mesmo assim, NÃO
se pode acusar a Presidenta de corrupção ou de ser conivente com o mal-feito.
Na verdade, a maioria de nós cobra dos outros o que não faz no dia a dia.
Nenhum escândalo atingiu este governo, mas temos tanta raiva do mensalão que
não enxergamos o óbvio: enquanto os mensaleiros do PT estão todos condenados e
presos, os do DEM e do PSDB estão soltos, candidatos e sendo votados por muitos
indignados de plantão;
O fato é que, em termos de impacto financeiro, o desvio de
recursos públicos do metrô de São Paulo é milhares de vezes superior a outros,
como o mensalão, por exemplo, porém, foi ‘engavetado’ pela mídia. Não gera a
mesma indignação. É certo que não se pode justificar um erro com outro e esta
observação não é uma justificativa, mas a simples constatação de que a mídia
seleciona os escândalos para combater no objetivo de forjar na classe média o
sentimento de revolta e de ira contra o PT. Já imaginaram como agiria a mídia
se o caso do avião pago com notas frias fosse da candidata Dilma? Acham que a
mídia teria dado o mesmo tratamento?
Enfim, precisamos muito melhorar o país, mas não estamos tão
mal quanto somos levados a crer. Não atravessamos graves crises há 12 anos
(perceba-se que a crise grave é múltipla – tem perfil econômico, político e
social). Há uma geração inteira que não sabe o que é ver supermercados
fechando; saques durante as secas (vivemos a maior estiagem da história e não
houve um saque motivado pela fome ou para furtar a pobre merenda escolar). Há
uma geração inteira que não viu os bancos estaduais sendo liquidados, enfim, se
a cobrança se deslocou do aspecto econômico e está no aspecto moral é porque
não passamos por sérios problemas econômicos.
Pergunto: é a hora para vociferar e ‘dar o troco’? Estamos
prontos para isso? Será que consolidamos as nossas conquistas ao ponto de
caçoar delas? A viloência está alta, mas nada é tão ruim que não possa piorar.
Um corte nos programas sociais e a desigualdade social voltará a dar as caras.
Isto sim é a base e o motor da grande violência e instabilidade.
Pergunte-se: você piorou? A condição da sua família piorou?
Seu comércio fechou? Sua indústria parou? Seu bairro e sua cidade melhoraram ou
pioraram? Sua pequena construtora venderia tanto sem o Minha Casa, Minha Vida?
Seu supermercado ou comércio de atacado venderia tanto sem o Bolsa Família?
Você pôde colocar seu filho na universidade pública ou privada (com bolsa
FIES)? Você tem um parente estudando fora do Brasil? Pôde viajar e fazer
compras no exterior?
Tudo isso pode ser colocado à prova. O general De Gaulle
disse uma vez que o Brasil não é um país para principiantes. É certo que os
bancos e empresários participam dos governos, assim como outras categorias, mas
não foi um banqueiro quem escreveu os programas sociais do atual governo. A
banqueira do complexo Itaú-Unibanco já decretou a independência do Banco
Central no dia seguinte à posse de Marina. Significa o Brasil permitir que o
nosso BC seja dominado pelos interesses financeiros internacionais. Estamos
dando as nossas galinhas para a raposa tomar conta.
Tem certeza, em sã consciência, de que quer arriscar? A
decisão é sua.
Espero não retornar a este mesmo canal para dizer: Eu não
avisei? Saiba que farei isso, com muita dor no coração, porque quatro anos de
interrupção ou de retrocesso podem ser fatais para o ritmo de crescimento do
Brasil. Até que o país clame pela volta de Lula ou de Dilma, em 2018.
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Escrito por Maria
Luiza Alencar Feitosa, professora com doutorado em Direito Econômico, pela
Universidade de Coimbra, atual diretora do Centro de Ciências Jurídicas da
Universidade Federal da Paraíba, Brasil.
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