quinta-feira, 4 de setembro de 2014


ELEIÇÕES 2014

Não vou pecar por omissão. Não quero me arrepender por ter-me calado. Reservo um pouco do meu tempo atribulado para essa tarefa. E, se o risco que anuncio se concretizar, vou rezar muito para estar errada porque o que está em jogo é o país e a nossa estabilidade econômica, política e social.

É preciso abrir os olhos e compreender que parte importante das críticas que alimentamos raivosamente contra o governo federal é fruto da ação da mídia e dos grandes empresários que tiveram suas postulações contrariadas, especialmente os empresários internacionais que temem a concorrência do gigante Brasil, em diversos setores da economia. Foi gerado um sentimento de falta de ética e de moral (algo que reside no terreno abstrato dos pontos de vista, mas forte o suficiente para parecer objeção concreta e gerar uma sensação de infidelidade nos compromissos). As pessoas se sentem traídas pelo discurso do PT mais do que pelas ações do governo federal e não enxergam diferença entre os dois.

No entanto, é preciso perquirir o que há de real nesse processo. O que importa mais? Será que não estamos querendo jogar fora a água do banho com a criança junto? Corremos o risco de perder o acessório e o principal, intencionalmente ou por falta de paciência para separar o joio do trigo.

Senão vejamos:

Fala-se em inflação, mas ela nunca esteve acima da média estabelecida, ao contrário, a média de inflação no governo Dilma é a menor dos três governos do PT;

O governo Lula recebeu um caixa negativo junto ao FMI e baixo lastro em reservas internacionais e hoje, no auge da crise internacional, o governo Dilma dispõe de 379 bilhões de dólares;

O governo anterior a Lula privatizou quase tudo no país e ainda realizou dois grandes empréstimos ao FMI (em 1998 e 2001, sendo que a última parcela - de 30 bilhões - foi recebida em setembro de 2002 para garantir a campanha eleitoral tucana). O país estava de joelhos, enquanto hoje o Brasil não deve mais ao FMI porque todas as obrigações com o Fundo foram cumpridas desde Lula;

Falou-se mal do país e da copa do mundo por um ano, em todas as manchetes da Veja e de outras revistas e jornais da grande mídia nacional e internacional, para afinal realizarmos um evento ótimo e depois os jornais estrangeiros pedirem desculpas ao país;

Fala-se da crise, mas o Brasil nunca desempregou, o PIB brasileiro nunca deu negativo, o governo jamais reduziu (ao contrário) benefícios sociais ou educacionais; o país está em obras (construindo portos, estradas, ferrovias, aeroportos, hidrelétricas, equipando as pequenas prefeituras com máquinas e outros insumos etc);

O programa Luz para Todos tirou o Brasil do escuro; a Universidade não contingenciou recursos expressivos. As bolsas nacionais e internacionais para mestrado e doutorado e a bolsa para o Programa Ciências sem Fronteiras, que beneficiam milhares de estudantes universitários, se multiplicaram.

Falou-se do Mais Médicos e o programa é um sucesso. Em São Sebastião do Umbuzeiro, no interior da Paraíba, por exemplo, há dois médicos que moram no local e visitam as famílias nos finais de semana. Não fazem como os outros que davam um dia de expediente por semana, quando iam trabalhar;

Falou-se do ENEM e é outro sucesso, mesmo manejando a maior estrutura do mundo em termos de quantidade de inscritos e de cobertura geográfica;

O PRONATEC e o PROJOVEM são exemplos de inclusão dos jovens. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e o Projovem Trabalhador preparam os jovens para o mercado de trabalho, com resultados importantes na indústria;

O SAMU e as UPAs ajudam a enfrentar o problema da saúde no Brasil. O governo federal faz a sua parte, mas depende das parcerias com Estados e municípios para o sistema funcionar bem;

A democracia está sólida e as MINORIAS são respeitadas. O Estado brasileiro é laico;

Fala-se tanto em corrupção (e é verdade – o Brasil possui um enorme déficit comportamental no trato com a coisa pública), mesmo assim, NÃO se pode acusar a Presidenta de corrupção ou de ser conivente com o mal-feito. Na verdade, a maioria de nós cobra dos outros o que não faz no dia a dia. Nenhum escândalo atingiu este governo, mas temos tanta raiva do mensalão que não enxergamos o óbvio: enquanto os mensaleiros do PT estão todos condenados e presos, os do DEM e do PSDB estão soltos, candidatos e sendo votados por muitos indignados de plantão;

O fato é que, em termos de impacto financeiro, o desvio de recursos públicos do metrô de São Paulo é milhares de vezes superior a outros, como o mensalão, por exemplo, porém, foi ‘engavetado’ pela mídia. Não gera a mesma indignação. É certo que não se pode justificar um erro com outro e esta observação não é uma justificativa, mas a simples constatação de que a mídia seleciona os escândalos para combater no objetivo de forjar na classe média o sentimento de revolta e de ira contra o PT. Já imaginaram como agiria a mídia se o caso do avião pago com notas frias fosse da candidata Dilma? Acham que a mídia teria dado o mesmo tratamento?

Enfim, precisamos muito melhorar o país, mas não estamos tão mal quanto somos levados a crer. Não atravessamos graves crises há 12 anos (perceba-se que a crise grave é múltipla – tem perfil econômico, político e social). Há uma geração inteira que não sabe o que é ver supermercados fechando; saques durante as secas (vivemos a maior estiagem da história e não houve um saque motivado pela fome ou para furtar a pobre merenda escolar). Há uma geração inteira que não viu os bancos estaduais sendo liquidados, enfim, se a cobrança se deslocou do aspecto econômico e está no aspecto moral é porque não passamos por sérios problemas econômicos.

Pergunto: é a hora para vociferar e ‘dar o troco’? Estamos prontos para isso? Será que consolidamos as nossas conquistas ao ponto de caçoar delas? A viloência está alta, mas nada é tão ruim que não possa piorar. Um corte nos programas sociais e a desigualdade social voltará a dar as caras. Isto sim é a base e o motor da grande violência e instabilidade.

Pergunte-se: você piorou? A condição da sua família piorou? Seu comércio fechou? Sua indústria parou? Seu bairro e sua cidade melhoraram ou pioraram? Sua pequena construtora venderia tanto sem o Minha Casa, Minha Vida? Seu supermercado ou comércio de atacado venderia tanto sem o Bolsa Família? Você pôde colocar seu filho na universidade pública ou privada (com bolsa FIES)? Você tem um parente estudando fora do Brasil? Pôde viajar e fazer compras no exterior?

Tudo isso pode ser colocado à prova. O general De Gaulle disse uma vez que o Brasil não é um país para principiantes. É certo que os bancos e empresários participam dos governos, assim como outras categorias, mas não foi um banqueiro quem escreveu os programas sociais do atual governo. A banqueira do complexo Itaú-Unibanco já decretou a independência do Banco Central no dia seguinte à posse de Marina. Significa o Brasil permitir que o nosso BC seja dominado pelos interesses financeiros internacionais. Estamos dando as nossas galinhas para a raposa tomar conta.

Tem certeza, em sã consciência, de que quer arriscar? A decisão é sua.

Espero não retornar a este mesmo canal para dizer: Eu não avisei? Saiba que farei isso, com muita dor no coração, porque quatro anos de interrupção ou de retrocesso podem ser fatais para o ritmo de crescimento do Brasil. Até que o país clame pela volta de Lula ou de Dilma, em 2018.

________________

 Escrito por Maria Luiza Alencar Feitosa, professora com doutorado em Direito Econômico, pela Universidade de Coimbra, atual diretora do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal da Paraíba, Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário